Para tratar de aspectos relacionados ao câncer de mama e a importância do diagnóstico precoce, o médico oncologista clínico Michel Fabiano Alves foi um dos convidados para a sessão especial realizada ontem, 29 de maio, na Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), através de um ciclo de debates sugerido por representantes da Associação dos Amigos da Oncologia (AMO) e da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA). O especialista, também responsável técnico do serviço de oncologia no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) – unidade de alta complexidade gerenciada pelo Governo de Sergipe – tem formação oncológica no Sistema Único de Saúde (SUS) e residência médica pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), atuando paralelamente também na rede privada de saúde.
De acordo com Fabiano, a sessão favorece a discussão de avanços e planejamentos de ações que visam qualificar a assistência à saúde prestada aos pacientes oncológicos. “Conforme dados americanos, cerca de um terço das neoplasias que acometem as mulheres são câncer de mama. Nos EUA, temos 252 mil novos casos por ano, o que não difere muito da realidade brasileira, sendo esperados 57 mil novos casos para este ano de 2018. Quanto à mortalidade em decorrência da doença, estão sendo registradas 15 mil pacientes por ano. Já com base nas estimativas obtidas em Sergipe, fruto dos registros de câncer hospitalar e de base populacional, espera-se que em 2018, os novos casos de câncer de mama estejam estimados em 470, sendo que a rede hospitalar de assistência atende também pacientes provenientes de estados, como Bahia e Alagoas”, explicou.
Segundo o especialista, a justificava plausível para a abordagem sobre o assunto está em ser o câncer de mama o tumor mais frequente em mulheres, tendo sobrevida média de 90% após cinco anos de diagnóstico, o que já representa um grande avanço. “Atualmente, conseguimos contemplar a cura de várias mulheres. Por outro lado, um em cada cinco casos de câncer de mama já oferecem diagnóstico na fase mais avançada, em metástase, o que representa a principal causa de morte por câncer entre as mulheres. No Brasil, a cada hora, seis novos casos de câncer de mama aparecem. No mundo, a cada 19 segundos, um novo diagnóstico desse tipo de câncer surge entre as mulheres, e a cada 74 segundos uma mulher morre com câncer de mama”, acrescentou Michel Fabiano.
FATORES DE RISCO
A importância do diagnóstico precoce implica nos benefícios agregados à descoberta da doença em fase inicial. Quando isso acontece, as chances de cura são altíssimas. Se conseguirmos oferecer um diagnóstico precoce a um tumor menor do que dois centímetros há chances de cura calculadas em 90% dos casos. Quanto maior o tumor, mais avançada a doença e menores as chances de cura. Por muito tempo se tratou do autoexame da mama como forma de prevenção. Hoje, nenhuma sociedade médica recomenda mais isso, e sim, que a mulher tenha o conhecimento da sua mama, apalpe, e ao perceber qualquer alteração ocorrida, então, procure imediatamente o médico. O exame clínico, de grande importância, é feito por um médico mastologista e é capaz de identificar lesões iniciais, sendo indicado para todas as mulheres acima de 40 anos.
“A mamografia, por sua vez, é tida como principal exame que permite dar o diagnóstico precoce de câncer de mama. É capaz de identificar lesões menores do que um centímetro, em fase muito inicial, com chance de cura altíssima. É o único método com comprovada evidência de redução de mortalidade. Pelas recomendações do Instituto Nacional do Câncer – INCA, todas as mulheres entre 50 e 69 anos devem fazer uma mamografia a cada dois anos. Desde 2016, que a Sociedade Brasileira de Mastologia e a Sociedade Brasileira de Radiologia, bem como todas as sociedades médicas, recomendam que todas as mulheres entre 40 e 74 anos façam o exame anualmente”, recomendou o médico.
MAMOGRAFIA
Outros dados obtidos em 2017 avaliaram a percentagem da população entre 50 e 69 anos que realizou regularmente a mamografia, conforme recomendações do Ministério da Saúde. A meta do Ministério é que mais de 70% dessas mulheres realizem mamografia a cada dois anos. Em Sergipe, 52% das mulheres estão aderindo ao rastreamento, número esse que não é dos piores, mas propenso a melhorar, conforme parecer do oncologista. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda um mamógrafo para cada 240 mil habitantes. Sergipe possui 40 desses aparelhos, 25 em Aracaju e os demais espalhados entre as principais cidades do interior sergipano, o que resulta em um mamógrafo para cada 40 mil habitantes, ou seja, um número superior ao que se recomenda, já que a população sergipana é de cerca de 2 milhões de habitantes. Por outro lado, não se consegue disponibilizar esse exame de forma eficaz para todas as mulheres.
A ultrassonografia é considerado um método complementar à mamografia, não a substituindo, e é usada para mulheres mais jovens, com mamas mais densas. A ressonância é outro método muito mais detalhado, mas indicado apenas para planejamento pré-operatório ou para mulheres com alto risco de câncer de mama, entre outros casos, e age de forma complementar a mamografia e ultrassom. “A mamografia de rotina é a mais eficaz no diagnóstico de uma lesão menor do que um centímetro. O exame clínico das mamas consegue identificar lesões de cerca de dois centímetros e o autoexame só consegue identificar, geralmente, lesões maiores do que dois centímetros, o que representa uma doença mais avançada”, explicou ainda o oncologista.
Através de uma pesquisa do Datafolha, instituto de pesquisa pertencente ao Grupo Folha, realizada com 1.257 mulheres em todo o Brasil, percebeu-se que apenas 53% dessas fizeram a mamografia nos últimos dois anos. “Um número muito abaixo do que se espera. 41% fizeram ultrassom das mamas, e o principal, apenas 35% das mulheres fizeram exame clínico das mamas. Isso traduz uma dificuldade de acesso ao médico, ao mastologista. O dado que mais assusta é que 27% das mulheres não fizeram nenhum desses exames nos últimos dois anos. É preciso conscientizá-las sobre a importância de procurar os serviços públicos de saúde para que façam o diagnóstico precoce, sendo que não só a gestão ou a classe médica influenciam nesse processo, mas a própria consciência das mesmas”, acrescentou.
TRATAMENTOS
Uma equipe multidisciplinar está por trás desse tratamento oncológico, destinado às mulheres com câncer de mama, entre eles, oncologista clínico, cirurgião oncológico, mastologista, cirurgião plástico, radioterapeuta, enfermeiro, nutricionista e o psicólogo. Pode-se definir quatro tipos de câncer de mama que levam esses profissionais a proceder com tratamentos completamente diferentes. De forma geral, a paciente sempre , se inclina para a retirada da lesão da mama quando o intuito é o curativo da doença. Isso é programado pela equipe multidisciplinar de forma que pode realizar quimioterapia antes da cirurgia para que haja redução da lesão, a fim de que a mesma se submeta a um procedimento cirúrgico menos agressivo.
Em outros casos, há a cirurgia e, em seguida, a radioterapia, quimioterapia ou hormonioterapia, a depender da situação. No caso da paciente com câncer metastático, a equipe multidisciplinar programa um tipo de tratamento que visa prolongar o tempo de vida e favorecer a qualidade de vida da paciente. Condição essa que é a realidade de uma em cada cinco mulheres que têm diagnóstico de câncer no Brasil. O acesso às novas tecnologias e às novas drogas é tido como ponto importante no tratamento de pacientes com câncer de mama. Porém, a droga capaz de fazer com que tumores mais agressivos se comportem de forma bem menos agressiva, aumentando as chances de cura e de sobrevida de pacientes, não esteve acessível para todos até pouco tempo e, alguns ainda não estão.
“O medicamento trastuzumabe, que não é quimioterapia, portanto não provoca nem a queda de cabelos, foi autorizado recentemente no serviço público de saúde do Brasil para o tratamento de câncer de mama metastático. A droga foi autorizada no Brasil, primeiro no serviço privado, mas o SUS aderiu a essa recomendação com atraso de seis anos, o que gerou um impacto importantíssimo, fazendo com que a OMS emitisse um documento, recomendando a droga como essencial a todos os países do mundo, independente de suas riquezas, em virtude do resultado que traz nas chances de cura da paciente. Uma das consequências desse atraso torna-se nítida no registro feito entre 2005 e 2012, período no qual estima-se que 4.800 mulheres morreram pela ausência de implementação da droga pelo SUS. Essa droga é comprada pelo Estado de Sergipe desde 2014 e tão logo passou a ser repassada para todas as pacientes com câncer em metástase”, pontuou Michel Fabiano.
*Matéria produzida pela jornalista Núbia Santana para a AMO e Femama
**Foto 1 Agência Alese de Notícias
***Foto 1 Acrísia Siqueira