Já foi dito aqui no Portal JL Política, na Entrevista Domingueira do dia 3 deste mês, que o nome da Associação dos Amigos da Oncologia – AMO – do Estado de Sergipe, de apenas 25 anos, “é tão notável quanto o peso, a força e as complexidades dessa doença milenar que ela enfrenta e combate – o câncer”.
E hoje a AMO e a sua diretora-presidente Conceição Balbino, uma assistente social de 56 anos que se juntou a religiosos, médicos, enfermeiros e mais profissionais da área dela em novembro de 1996 para fundar essa entidade que encara o câncer e seus problemas de frente, voltam à pauta.
Agora, numa nova entrevista concedida por Conceição Balbino à Coluna Política & Mulher e por um motivo mais doo que nobre: o de anunciar o início da construção da Nova Casa de Apoio Anna Garcez.
“Ela começará a ser construída exatamente nesta sexta-feira, 22 de abril, e está orçada em R$ 2,121 milhões”, diz Conceição Balbino. Nesta entrevista você saberá as dimensões da Nova Casa de Apoio, quando ela estará pronta, quem foi Anna Garcez na história da AMO e como o voluntariado se corporifica nessa hora para fazer jus ao custo de tudo. Boa leitura.
Política & Mulher – Onde será feita a nova Casa de Apoio Anna Garcez, qual o prazo de construção dela e está orçada em quanto?
CB – A nova Casa de Apoio Anna Garcez será construída na mesma rua da nossa sede institucional, mas em número diferente. A rua e o bairro são os mesmos, só o número mudará. Logo em breve, a nova Casa de Apoio deixará de ser anexo à nossa sede própria e passará a ser localizada na Permínio de Souza, 81, Cirurgia, ainda mais próximo do hospital do mesmo nome.
Política & Mulher – Mas esse endereço tem um elo anterior com a AMO?
CB – Sim. Voltaremos, na verdade, para onde foi a nossa primeira Casa de Apoio. Casa essa cedida por comodato, durante muitos anos, pela família Garcez, do Cartório Aminthas Garcez, do 5º Ofício de Aracaju Notarial e Registral de Aracaju.
Política & Mulher – A programação de início da obra da nova Casa de Apoio Anna Garcez está prevista para este mês de abril. Será possível?
CB – Sim, ela começará a ser construída exatamente nesta sexta-feira, 22 de abril, e está orçada em R$ 2,121milhões. O orçamento inicial de R$ 1,5 milhão sofreu um reajuste de 41,4% em razão da elevação crítica nos preços do aço, da madeira e do concreto nesses dois últimos anos de pandemia.
Política & Mulher – E há os recursos suficientes?
CB – Temos em conta R$ 1.322.118,55 arrecadados ao longo dos últimos oito anos através de campanhas solidárias de captação como o sorteio de um apartamento, leilão de obras de artes, venda de produtos personalizados. Esse projeto da nova Casa de Apoio tem muitas mãos. Antes mesmo de iniciar a construção, já contamos com o apoio de muitas pessoas e empresas, bem como da imprensa local, de agências de publicidade e de produtoras de vídeos, arquitetos e engenheiros civis. Por tudo isso, para dar a maior resposta que nós queríamos dar aos nossos apoiadores e à sociedade, assinamos no mês passado, em 21 de março, um contrato de empreitada com a empresa Kaza Construções e Serviços Ltda para iniciar as obras com o prazo máximo de execução de 24 meses. Para concluí-la, teremos que arregaçar as mangas e correr atrás dos R$ 798.881,45 restantes.
Política & Mulher – Já buscaram recursos públicos?
CB – Temos a previsão de receber este ano uma emenda parlamentar do senador por Sergipe Alessandro Vieira no valor de R$ 364.611,67. Submetemos um projeto no inovador Edital de Emendas Participativas 2021, concorremos com 423 projetos – de diferentes setores da sociedade, como universidades públicas federais, órgãos públicos estaduais e organizações sociais. Obtivemos aprovação na primeira fase e, na segunda fase, de votação popular, alcançamos a maior votação em Aracaju e entre todos os municípios sergipanos. Logo após o repasse das emendas para o Governo de Sergipe, previsto para este mês de abril, a Secretaria de Inclusão Social formalizará uma parceria e elaborará um convênio com a nossa Associação para repassar aquele valor total e, com isso, poderemos utilizar esse recurso público em nossa obra de construção da nova Casa de Apoio. Sendo assim, correremos atrás dos R$ 434.269,78 restantes, seja por meio de campanhas solidárias, seja por meio de captação de mais recursos públicos. Sem sombra de dúvidas, teremos muito trabalho pela frente.
Política & Mulher – Será difícil obter isso?
CB – Não será uma tarefa fácil, mas também nunca foi fácil. Temos certeza de que o povo de Sergipe irá colaborar com esse novo projeto mais uma vez, como tem contribuído há 25 anos. Além disso, vale destacar aqui que esse contrato foi elaborado e analisado voluntariamente pelo Escritório de Advocacia Eduardo Ribeiro no nome do advogado Emanuel Messias Barboza Moura Júnior, o que nos trouxe muita segurança jurídica. Ao longo dessa caminhada, conquistamos grandes parceiros. Sendo assim, a Construtora Kaza foi, então, a empresa selecionada por nossa Diretoria Executiva três meses após recebimento de propostas, estudos e avaliações. Quatro construtoras concorreram com a apresentação de propostas.
Política & Mulher – Mas por que foi a Construtora Kaza a vencedora?
CB – Porque a Kaza – incorporadora genuinamente sergipana – foi a que apresentou melhor proposta de execução e melhor preço, além de já possuir um portfólio interessante de reformas e construções com empresas grandes aqui em nosso Estado. Estamos muito ansiosos para ver essa obra concretizada. Em abril de 2024 ou, até mesmo antes, a sociedade sergipana poderá contar com uma nova infraestrutura de apoio a pacientes com câncer.
Política & Mulher – Que capacidade de atendimento terá a nova casa?
CB – A nova Casa de Apoio terá 851 metros quadrados de área construída, dois pisos, sete dormitórios, 44 leitos, home day com 30 acomodações, um consultório, uma cozinha, um refeitório, um espaço para oração, seis jardins, quatro sanitários com acessibilidade, dois banheiros, dois vestiários e nove áreas de circulação. Tudo isso para alcançar a capacidade inicial de atendimento de 74 pessoas por dia. Mais para frente, talvez, consigamos até ampliar um pouco essa capacidade, a depender da demanda e da nossa possibilidade de adaptação. Hoje, a Casa de Apoio está anexa à sede institucional e tem capacidade para 40 pessoas. Recentemente mesmo, a Casa estava lotada numa segunda-feira, sem possibilidade alguma de receber mais pacientes. Alguns desses pacientes tiveram que postergar suas vindas para a Aracaju e só vir num dia seguinte, já com uma acomodação garantida para se hospedar. Em razão disso, a nossa urgência em construir a nova Casa de Apoio e poder ampliar e melhorar a assistência, seja oferecendo mais apoio e conforto, seja qualificando ainda mais os serviços assistenciais oferecidos.
Política & Mulher – Com essa nova Casa de Apoio Anna Garcez, a AMO estará indo para o seu segundo imóvel. É impossível se pensar em algo ainda maior, como uma clínica privada ou um hospital da AMO para atendimento do público no futuro?
CB – Se me perguntarem se estamos satisfeitos com o que temos, sempre responderei que somos muito agradecidos, mas há ainda muito por fazer. Portanto, tudo é possível. Irmã Dulce, hoje Santa Dulce dos Pobres, de quem sou devota, conseguiu transformar um galinheiro em um grande hospital na Cidade Baixa de Salvador. Esse hospital é hoje uma referência, inclusive para o tratamento do câncer. A entidade filantrópica tem vários braços, que vão além de sua unidade de saúde, como creche e fábrica de pães para ajudar na manutenção das suas obras socais. Então, isso significa dizer que nunca sabemos para o que somos chamados, e se nos forem apresentados, por que não sermos desafiados? Ao longo desses 25 anos, nos profissionalizamos muito no cuidado ao paciente com câncer, então não seria impossível ampliarmos essa assistência que é hoje social para a saúde ou algo maior. Nascemos como assistência. Somos assistência. Mas no futuro nada nos impede de sermos mais e de irmos além.
Política & Mulher – Mas quem foi mesmo Anna Garcez?
CB – De fato, muitas pessoas nos perguntam quem é ou quem foi Anna Garcez, que nomeia a nossa Casa de Apoio. Anna Garcez foi voluntária da AMO e uma dos 29 sócio-fundadores. O esposo de Anna, seu Sílvio Garcez, foi o primeiro presidente da nossa Associação. Eles atuavam como voluntários no Hospital de Cirurgia e ajudaram a fundar a Associação lá em 21 de novembro de 1996.
Política & Mulher – A própria Anna Garcez vivenciou um câncer?
CB – Sim. Meses após a fundação da instituição, ela foi diagnosticada com câncer de mama agressivo e, em menos de um ano, faleceu vítima de metástase hepática e pulmonar. Foi uma morte muito marcante para todos nós. Como a família Garcez cedeu a primeira Casa de Apoio para acolher os pacientes com câncer em situação de vulnerabilidade social, nós – fundadores e voluntários – decidimos por unanimidade nomear a Casa de Apoio por Anna Garcez em uma justa homenagem à nossa amiga fundadora. Tem dado muito certo até hoje. De lá de cima, ela deve se voluntariar.
Política & Mulher – Quais são as pretensões da AMO com esta ida ao município de Lagarto?
CB – As nossas pretensões são única e exclusivamente as de oferecer apoio e acolhimento ao paciente em tratamento contra o câncer e em situação de vulnerabilidade social e econômica. Essas pretensões estão sintonizadas com a nossa missão institucional e serão as mesmas já praticadas aqui em Aracaju há 25 anos. Para explicar e contextualizar melhor, a nossa ida futura para Lagarto não parte de um desejo pessoal, muito menos de um capricho meu ou da gestão. A futura instalação surgirá mais uma vez da necessidade: o Hospital de Amor de Lagarto – filial do Hospital de Câncer de Barretos – que está sendo construído lá. Lagarto terá, muito em breve, o maior complexo hospitalar do Nordeste do Brasil em prevenção, tratamento, estudo e pesquisa do câncer.
Política & Mulher – O Hospital de Amor tem um histórico exemplar?
CB – Sim. O hospital é uma das maiores referências nacionais em oncologia, é filantrópico também e tem 60 anos de existência. A população de Sergipe e do Nordeste terá tratamento gratuito, pelo SUS, de quimioterapia, radioterapia, intervenção cirúrgica, medicina nuclear, emergência, serviços ambulatoriais, pesquisa e prevenção no mais elevado padrão de qualidade e humanização de atendimento. O hospital terá capacidade inicial de realizar dois mil atendimentos por dia. Simplesmente por tudo isso, por toda essa grandiosidade e realização, a nossa Associação estará muito em breve em Lagarto, antes de outubro deste ano, mês previsto para a inauguração da primeira etapa do Hospital de Amor para iniciar os novos tratamentos de quimioterapia e de radioterapia no interior de Sergipe. Vale mencionar aqui que a nossa ida futura para Lagarto parte principalmente de um convite particular vindo do próprio Hospital de Amor. O articulador José Carvalho de Menezes, assessor geral e grande entusiasta do Hospital em Lagarto, conheceu a nossa instituição e ficou maravilhado com o serviço aqui prestado. De pronto, convidou a Diretoria Executiva da instituição para conhecer o novo hospital ainda em construção. Aceitamos o convite e fomos até Lagarto no mês passado.
Política & Mulher – A senhora gostou do que viu por lá?
CB – Ficamos encantados com o que será construído e feito por lá. Muitas vidas serão salvas e muitas almas serão curadas. Não temos, por isso, a menor dúvida de que Lagarto será transformada no centro do tratamento do câncer no Nordeste do Brasil. E, em contentamento por tudo que estava nos sendo apresentado, fomos surpreendidos com o pedido de apoio para nos somar a esse projeto do Hospital de Amor. O pedido foi de compromisso, para abrirmos ainda mais o nosso coração – que está desenhado em nossa marca – e nos foi lançado o desafio de criação de novo endereço de apoio aos pacientes oncológicos usuários do SUS que farão tratamento no futuro hospital. Nesse sentido, nós não temos muito o que pensar. Temos que aceitar este novo desafio e ir para Lagarto e apoiar o Hospital de Amor. Essa é a nossa vontade, mas para isso precisaremos contar com o apoio da sociedade sergipana. Afinal de contas, ir para Lagarto significará acolher mais pacientes e acolher mais pacientes implicará em aumento de custos e aumento de custos requer aumento de receitas, de doações. Faremos tudo isso com muita prudência e organização, como sempre fizemos para não prejudicar a saúde financeira da instituição. Jamais daremos um passo maior do que a perna. Além disso, para podermos abrir esse novo endereço, nova Assembleia Geral deverá ser realizada convocando todos os voluntários para aprovar essa decisão e mais uma inserção no Estatuto Social da AMO deverá atualizada.
Política & Mulher – A entidade poderá se abrir a outros municípios de grande porte em Sergipe?
CB – Não há nada impossível de acontecer. No entanto, não acredito em outra situação semelhante. As unidades de tratamento do câncer estão concentradas na capital Aracaju. Temos o Hospital de Cirurgia – que é o primeiro serviço de oncologia de Sergipe -, o Hospital de Urgência de Sergipe e o Hospital Universitário da Universidade Federal de Sergipe. Esses são os três serviços que oferecem tratamento do câncer de forma gratuita para a população e estão todos concentrados em Aracaju. Só vamos para Lagarto apenas para manter uma nova unidade de Casa de Apoio porque lá será oferecido tratamentos para o câncer da mais alta qualidade, para pacientes dependentes do SUS. Não vislumbro outra possibilidade de criação de novo serviço público no interior. Por isso, somente Lagarto será um braço da AMO no interior do Estado.
Política & Mulher – O terceiro setor em Sergipe tem se ressignificado ou está parado e cômodo?
CB – Nunca esteve parado. Até porque o número de instituições filantrópicas tem crescido bastante em nosso Estado. Vejo muita profissionalização em outras organizações, inclusive de áreas semelhantes e diferentes. Hoje, muitas delas pensam e repensam suas estratégias, têm governança, investem em recursos humanos, buscam incessantemente novas formas de captação de recursos financeiros, investem em comunicação e marketing.
Política & Mulher – A senhora o vê revigorado?
CB – Diria que o Terceiro Setor em Sergipe está cada vez mais forte e lutando por sua sobrevivência, sendo muito bem administrado por pessoas qualificadas e comprometidas com o social, com propósito muito bem definido, recorrendo a toda potencialidade e inventividade, sempre se atualizando e usando as novas tecnologias de comunicação e informação.
Política & Mulher – Haveria, então, um novo perfil?
CB – Sim. Se há um perfil que vem se consolidando nas duas últimas décadas esse é o do trabalhador do Terceiro Setor, que é qualificado e que acredita na oferta de oportunidade dessa atividade para colaborar para a sociedade. Não é um trabalhador que vem pela caridade, pelo voluntarismo. Ele vem pelo mercado. Pela profissionalização. Isso tem mudado nas duas últimas décadas. Vejo isso em nossa Associação, nas organizações sociais aqui no Estado e até mesmo fora daqui, em outros Estados, com as nossas filiadas.