“Cerca de 90% dos pacientes em cuidados paliativos sofrem de doenças crônico-degenerativas e morrem sozinhos, cheios de medo, com dores não aliviadas, com sintomas físicos não controlados e com questões sociais e espirituais não atendidas”. Com essas informações, a médica geriatra Paula Conceição Silva Santos abriu na última terça-feira, dia 7 de agosto, a sexta edição do Curso de Cuidadores e sensibilizou mais de 50 cuidadores e familiares de pessoas com câncer.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS, o cuidado paliativo é uma abordagem que promove qualidade de vida de pacientes e seus familiares, que enfrentam doenças que ameaçam a continuidade da vida, através da prevenção e alívio do sofrimento e sempre requer identificação precoce, avaliação e tratamento da dor e outros problemas de natureza física, psicossocial e espiritual.
ENVELHECIMENTO POPULACIONAL
Com o aumento da expectativa de vida e com o inquietante fenômeno do envelhecimento populacional, as demandas por cuidados paliativos devem aumentar nas próximas décadas no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, os brasileiros com idade acima dos 65 anos correspondiam a 7,4 % da população em 2010, mas esse percentual deverá subir para 26,7% nos próximos quarenta anos.
“Essas estatísticas demográficas nos pedem atenção e cuidado. Com o envelhecimento da população, a incidência de doenças crônico-degenerativas aumenta e não tem como não abordar a morte como um processo natural. O que nos preocupa é o Brasil ocupar a 42ª posição entre os melhores lugares para morrer com dignidade. Precisamos transformar essa realidade, afinal de contas a morte é um processo inevitável da vida de todo o ser humano.”, argumenta a geriatra.
EXPERIÊNCIA ÚNICA
A palavra paliativo tem origem etimológica no latim pallium e significa manto, proteção. O pallium foi muito utilizado pelos cavaleiros de guerra nas Cruzadas como cuidados individuais de proteção. Pelo senso comum, paliativo é um quebra-galho, mas na Medicina é uma proteção de cuidados. O foco da Medicina deixa de ser a doença e passa a ser a pessoa em cuidados paliativos.
Os cuidados paliativos tiveram sua expansão entre os séculos XVII e XIX com o movimento moderno dos Hospices, pensado pela enfermeira e médica britânica Cicely Saunders, com os princípios de humanização, de conforto, de qualidade de vida e de dor total (a dor não pode ser entendida só pelo físico, mas também pelo psicológico, social e espiritual). A partir de então, pacientes e familiares passam a lidar com a terminalidade da vida e com a impossibilidade de cura de outras formas.
A doença começa a ter uma experiência única e a espiritualidade ganha novos significados, dimensões mais humanas e novas conexões. Prezam-se cada vez mais pelos restabelecimentos de vínculos. O foco do tratamento não é mais a doença, mas o paciente, a família e toda a equipe multidisciplinar que não pode ser reduzida ao médico, mas deve envolver assistente social, psicólogo, fisioterapeuta, nutricionista, terapeuta ocupacional e capelão.
SOBRE A GERIATRA
Paula Conceição Silva Santos é graduada em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe – UFS. Possui residência em Clínica Médica pela UFS e em Geriatria pela Universidade de São Paulo. Atualmente, exerce a função de médica geriatra no Hospital de Cirurgia, no Hospital de Urgência de Sergipe. E é professora universitária na graduação de Medicina da Universidade Tiradentes.
Sua primeira visita à Associação foi repleta de gratidão. “Sempre ouvi falar muito bem da AMO. O trabalho social feito aqui é nobre e exemplar. Passo quase que diariamente pela entrada da Associação, mas nunca tive oportunidade de entrar e conhecer. Essa casa tem uma energia muito boa, é um ambiente bastante espiritualizado, de cura e de esperança”, disse ao concluir sua apresentação.
CURSO
O Curso de Cuidadores é uma realização da Associação dos Amigos da Oncologia – AMO que visa capacitar cuidadores de pacientes com câncer. Sempre é realizado em agosto, pois o mês é dedicado à Medicina da Dor e dos Cuidados Paliativos. Neste ano, o curso está em sua sexta edição e acontece todas as terças-feiras, durante as quatro semanas de agosto, trazendo como temas saúde em domicílio, uso correto de medicamentos, controle da dor, práticas nas ostomias, alimentação saudável, movimentação do corpo, re-significação da vida e (re)estruturação familiar.