“Todo mundo aqui faz sexo? Quem sabe como usar a camisinha corretamente? A maioria ou a minoria usa camisinha em todas as práticas sexuais? É possível pegar Aids abraçando? Alguém conhece a camisinha feminina?”. Com essas perguntas diretas, pertinentes e que constrangem muitas vezes, o médico sanitarista Almir Santana conscientizou na manhã dessa terça-feira, dia 3 de julho, pessoas com câncer e seus cuidadores sobre a importância da prevenção contra o HIV, a Sífilis e as Hepatites Virais.
Em resposta às perguntas e para tornar a palestra e as discussões mais acaloradas, a dona de casa Celia Maria Conceição Oliveira, de 61 anos, mais conhecida como Celia de Beto no município de Lagarto, onde reside com o marido e filhos, colocou mais lenha na fogueira. “Conheço a camisinha feminina. Já peguei no posto de saúde, abri e vi. Eu só não sei usar…”, falou em voz alta a assistida pela Associação que está em tratamento de quimioterapia no Hospital de Urgência de Sergipe contra um câncer de pulmão.
O aposentado José Firmino dos Santos, de 71 anos, também morador da cidade de Lagarto, assistido pela Associação e em tratamento de quimioterapia no Hospital de Urgência de Sergipe contra um câncer de intestino, perguntou ao médico de forma bem acanhada e curiosa: “A pessoa em tratamento de câncer tem sempre que usar camisinha mesmo sendo casado?”, ao receber uma afirmativa do médico do que seja o ideal, ele disse que ia mudar o comportamento com a esposa após tantos anos de desconhecimento.
USO DA CAMISINHA
O uso correto e consistente da camisinha em todas as práticas sexuais é o melhor método preventivo contra as Infecções Sexualmente Transmissíveis – ISTs, a exemplo do HIV/Aids, Sífilis e Hepatites Virais. Por meio de demonstrações práticas, Almir Santana apresentou modelos representativos dos órgãos genitais masculino e feminino e convidou participantes para ajudar a explicar a forma mais adequada de se fazer o uso do preservativo.
Acompanhando a sogra em tratamento oncológico, a Amanda Bonfim, de 30 anos, moradora do bairro Marcos Freire III, no município de Nossa Senhora do Socorro, aprimorou o uso da camisinha masculina. “Ao pegar a camisinha, aperta-se o bico antes de colocar no pênis para tirar todo o ar. No pênis ereto, desenrola-se até embaixo. Não se recomenda usar creme, óleo ou vaselina, só produtos à base de água. No final do ato sexual, tira-se a camisinha com o pênis ainda ereto, dá um nó e joga-se no lixo”, explicou.
A camisinha feminina tem um manuseio mais complexo, como a dona de casa Celia de Beto expressou. “Aperta-se o anel interno e o introduz na entrada da vagina. Com o dedo por dentro da camisinha, empurra-se o anel o mais fundo possível. O anel externo deve permanecer para fora e o pênis deve ser introduzido dentro da camisinha. Para retirar, basta girar e puxá-la”, didatizou o médico Almir Santana, informando que a camisinha feminina é excelente quando o parceiro se recusa a usar preservativos.
HIV, SÍFILIS E HEPATITES VIRAIS
Essas ISTs são em geral transmitidas quando não se usa a camisinha. Sobre o HIV, a prevenção é usar camisinha e não compartilhar agulhas e seringas, além de se recomendar sempre fazer o teste rápido. Caso o resultado seja positivo, deve-se iniciar o tratamento cedo para melhorar a qualidade de vida e para reduzir a transmissão para outras pessoas e, se gestantes, para impedir a transmissão vertical para os bebês. Nessa situação, a gestante faz uso de medicamentos especiais para não transmitir o vírus durante o parto e a amamentação é proibida.
As hepatites viriais do tipo B e C podem ser transmitidas sexualmente e também por materiais contaminados. Elas provocam inflamação no fígado e os sintomas são urina escura, pele e olhos amarelados (icterícia) e fezes esbranquiçadas. “É importante redobrar os cuidados para não compartilhar o uso de alicates de unhas nos salões de beleza nem aparelho de barbear e depilar e escova de dentes. É preciso tomar cuidados também com a aplicação de piercings e tatuagens”, alerta o médico neste Julho Amarelo, dedicado à prevenção contra as hepatites virais.
Já a Sífilis é uma doença muito antiga. Ela começa com feridas nos órgãos genitais e ao chegar à corrente sanguínea, pode provocar lesões no coração e no cérebro. A transmissão vertical da doença é o que mais preocupa, pois os bebês nascem doentes ou mortos ou então morrem durante a gestação. “Mulher grávida deve usar camisinha e fazer exames periódicos e o Pré-natal. O marido também deve fazer o Pré-natal, já que a saúde do bebê depende da mãe e do pai”, reforça Almir Santana.
SOBRE A PARTICIPAÇÃO
Almir Santana possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Sergipe e residência médica em Saúde Pública pela Universidade de Ribeirão Preto. É servidor público e professor. Atualmente, atua como gerente do Programa Estadual de ISTs/Aids/Hepatites Virais pela Secretaria de Saúde de Sergipe. A sua palestra na AMO foi acompanhada por cerca de 80 pessoas com câncer e seus cuidadores durante a edição de julho do projeto Um Ser em Destaque. Após a apresentação, foram distribuídos folderes informativos e preservativos.