Ao iniciar sua palestra “Cuidados Paliativos na Oncologia”, no II Seminário de Cuidados Paliativos de Sergipe, realizado pela Associação dos Amigos da Oncologia – AMO, no final do mês de novembro último em Aracaju, o médico oncologista Michel Fabiano Alves abriu sua apresentação destacando o que chama de cancerofobia: o medo de receber um diagnóstico de câncer.
Pautado na pesquisa ‘Concepção dos brasileiros sobre o Câncer’ realizada pelo Instituto Nacional do Câncer – o INCA lá em 2007, o oncologista apresentou dados que demonstram o medo do câncer por mais de 80% dos brasileiros com 31% de negativismo, 27% de menção à morte e 23% vinculação somente a doença grave.
“O câncer provoca muito medo. Não é à toa que o percentual de pessoas que temem o câncer é quase duas vezes o de quem teme perder o emprego. As pessoas temem mais o câncer do que ficar desempregado, ser assaltado, ser atropelado, sofrer um AVC, ter HIV/Aids”, confirmou o médico.
CUIDADOS PALIATIVOS
Atualmente, 90% das pessoas morrem ou morrerão por doença crônica e prolongada e apenas 10% por morte súbita (acidente, coração etc). E nesse contexto de doença está o câncer, como uma das principais causas de morte em todo o mundo, mesmo com todos os avanços da medicina em terapias e em tecnologias de saúde e com o tempo de sobrevida pós diagnóstico cada vez maior, sobretudo entre as pessoas com maior poder aquisitivo.
“É o aumento da expectativa de vida que também aumenta a incidência de câncer. Não à toa estamos vendo cada vez mais casos de câncer próximo a nós. Projeta-se, no Brasil, por exemplo, quase 27% da população idosa em 2060, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Nesse período, 80% das mortes acontecerão em pessoas com mais de 60 anos. E, sem sombra de dúvidas, teremos mais pessoas com câncer e mais pacientes com necessidade de cuidados prolongados”, acredita o médico.
MUDANÇA DE CENÁRIO
Segundo o oncologista Michel Fabiano, esse novo cenário requer um aumento das despesas com saúde e um olhar cada vez mais voltado para os cuidados prolongados, para os cuidados paliativos. A promoção da qualidade de vida de um paciente com doença/câncer potencialmente letal deverá estar centrada não só no sofrimento físico, mas também no psicológico, espiritual e social.
“O cenário atual no Brasil precisará ser transformado. A vida deverá ser reafirmada e precisaremos entender a morte como um processo natural. Teremos que oferecer um sistema de suporte que auxilie o paciente a viver tão ativamente quanto possível. E precisaremos possibilitar cada vez mais esses cuidados especiais aos pacientes com doenças crônicas terminais, sobretudo aos mais pobres”, avaliou o médico ao focar nos princípios mais gerais, nem sempre praticados.